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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Revista 08- LIÇÃO 01- AGONIA DO PLANETA


AUXÍLIO 01


Pr. Adilson de Souza Filho

A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.
É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Os crescimentos econômico e populacional das últimas décadas têm sido marcados por disparidades. Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção de madeira mundial. 

1. A terra está gemendo enquanto a alma continua “bela”: Ec 2.1-11
A eco-teologia talvez seja a forma mais adequada de se fazer teologia em nosso tempo. O conceito de (eco-teologia) é relativamente novo. Surgiu nos últimos 30 anos, a partir de uma consciência de alguns teólogos, preocupados com o esgotamento dos recursos naturais, por conta da ganância humana.
Nesse sentido, a eco-teologia parece reunir subsídios convincentemente capazes de curar a visão vesga da teologia tradicional que sempre procurou Deus além ou fora da natureza. Isto é, sempre se preocupou com Deus, longe, lá no céu, distante de sua criação. Para Rubio, a Igreja é criticada pelo mundo moderno pelo fato de sempre ter se esquecido da realidade atual para pregar apenas uma salvação no “outro mundo”. Para ele, o cristianismo é hoje acusado de ter dado origem e de ter impulsionado o progresso com a sua atitude estúpida e suicidamente arrogante em relação ao meio ambiente[1]. Nesse mesmo tom de crítica, Frei Beto, porém focado no consumismo, disse que enquanto a Igreja prega o Céu além da vida nesta Terra, o consumismo acena com o Céu na Terra – é o que prometem a publicidade, o turismo, o novo equipamento eletrônico, o banco, o cartão de crédito etc[2].
Francis Bacon dizia: devemos “subjugar a natureza, pressioná-la para nos entregar seus segredos, amarrá-la a nosso serviço e fazê-la nossa escrava”[3]. Este paradigma ecoou durante os séculos e chegou em nosso tempo de forma sistemática e tecnológica. Semelhante a figura de um vírus, este paradigma é muito difícil de ser destruído, pois, tem como principal instrumento um tipo de (arma simbólico-imagética=este é o recurso do marketing publicitário que desperta o desejo do consumo a partir dos olhos, ou daquilo que vemos e desejamos) que produz prazer e felicidade. Segundo Frei Beto, para se ter acesso a essa felicidade, basta ter acesso ao consumo que propicia segurança e conforto: o apartamento de luxo, a casa na praia ou na montanha, o carro novo – financiado agora em 120 meses, o Kit eletrônico e de comunicações (o último modelo de telefone celular, computador de última geração, internet, tv de plasma, gps etc.)[4]. Esse vírus da modernidade contaminou-nos a todos, indistintamente. Vivemos numa pandemia tecnológica! A expressão “pandemia” significa doença que afeta a maior parte de uma população. E poucos de nós dão sinais de que estejam dispostos ao martírio da abdicação e da renúncia do consumismo aleatório.
O nosso tempo moderno parece ironicamente, retroceder ao período da arte que pintava o grotesco. Há uma liturgia cúltica da (estética=beleza) (hedônica=ensina que o bem supremo da vida é o prazer) e (narcisística=encantamento com a própria beleza). Como disse Frei Beto, busca-se, avidamente, a eternização do presente; multidões malham o corpo como quem sorve o elixir (efeito mágico) da juventude. Morreremos todos, porém, saudáveis e esbeltos[5].
De algum modo, fazemos leitura semelhante do texto de Ec 2.1-11. O autor descreve o período de sua vida em que buscava cegamente e a todo preço o “prazer da vida”. Mesmo que para isso tivesse que escravizar pessoas. O texto mostra a busca insana do prazer, e a qualquer custo. Procurou o prazer na bebida: v.3; no consumismo e na riqueza: v.4-7; na promiscuidade: v.8; na falta de amor e no individualismo: v.9-10. Infelizmente, esses ingredientes que juntos formam a base do hedonismo (prazer acima de tudo) ainda se fazem presente em nosso mundo moderno. Porém, em nosso tempo, a tecnologia chegou ao topo, com poder de agredir e explorar a terra de forma inimaginável. É por isso que não se dá para acreditar nesses tais “projetos de desenvolvimento sustentável”, até porque, quem os faz não tem interesse algum de abdicar-se do luxo e do aparato “tecnologicamente correto”. Portanto, ao meu modo de ver, a única forma para se falar de desenvolvimento sustentável a luz da Bíblia, deve ser a partir da consciência cristã de que devemos todos “frear radicalmente o nosso ímpeto consumista”. Até porque, o autor de Eclesiastes nos ensina que depois de experimentar tudo isso, chegou à conclusão de que tudo era ilusão.

2. O crer na providência é marca característica da vida cristã: Mt 6.25-34
É comum encontrar crentes em nossas igrejas que conheçam o texto de Mt 6.25-34; muitos de nós até decoram e recitam poeticamente este texto. Porém, é também comum perceber que quase todos nós temos dificuldades para aplicá-lo na prática da vida cristã. Isto é sinal de que, apesar de nossa tradição reformada, que tanto ensina sobre a providência divina, na maioria das vezes nos vemos correndo ansiosamente pelos recursos materiais. A bem da verdade nós andamos ansiosos o tempo todo porque queremos satisfazer nossos desejos de consumo. Criamos a todo momento “necessidades”, que quase sempre, são banais.
Contudo, conscientes ou não, voluntários ou não, satisfeitos ou não, teremos de rever nossa relação com o cosmos, especialmente, com a nossa casa (O Planeta Terra). O teólogo Leonardo Boff compara nosso tempo à figura de uma nave espacial em pleno vôo. Para ele, essa nave tem recursos limitados de combustível, de alimentos e de tempo de transcurso. 1% dos passageiros viaja na primeira classe com superabundância de meios de vida. 4% na classe econômica com recursos abundantes. Os 95% restantes estão juntos às bagagens no frio e na necessidade. Pouco importa a situação social e econômica dos passageiros. Todos correm ameaça de morte pelo esgotamento dos recursos da nave. Todos terão o mesmo destino dramático: ricos, remediados e pobres, caso não haja um acordo de sobrevivência para todos indistintamente. Desta vez não há uma arca de Noé que salve alguns e deixe perecer os demais[6].
Assim, a eco-teologia assume o caráter de urgência e contemporaneidade, sugerindo-nos a necessidade de se fazer teologia a partir de um novo modelo, ou, um novo objeto, que a rigor, deve ser a terra; ou seja, precisamos lembrar de que Deus está presente também na natureza. Aliás, essa é exatamente a mensagem de muitos salmos, mostrando que Deus se faz presente em toda a natureza (Sl 19). Não podemos mais, face à irrupção da morte de nossa mãe terra e consequentemente de todos nós, perpetuarmos a atitude reticente de passividade. Ou, como diz a música de Zé Geraldo: tudo isso acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos. É tempo de decisão! Paulatinamente isso vem ocorrendo. Como disse Rubio, muitas vozes somam hoje imenso clamor, alcançando já espaços públicos com manifestações populares. Críticas e culpados ecoam por todo lado. Calcula-se que os 13 países mais industrializados produzam 80% de toda poluição mundial[7].
Contudo, já está superada a fase de encontrar culpados pela degradação da natureza. É verdade que os vilões da natureza são os mega-produtores de bens e serviços; mas, eles não teriam necessidade de produzir tanto se não houvesse demanda. Precisamos reconhecer que estamos todos contaminados pelo vírus do consumismo. Mesmo que seja um simples passeio socrático ao Shopping, como gosta de afirmar Frei Beto[8], já é de alguma forma consumo.
Certamente a metáfora do vírus que estou utilizando, encontra seu mito fundante (origem) num tipo de patologia (doença) que aponta para a (hýbris=na tragédia grega significa: arrogância e orgulho que levaram o herói à queda). Boff, comentando sobre a distorção da religião, fala de três períodos que marcaram a história da humanidade. O primeiro é a era do espírito, que vigorou nas culturas originárias e ancestrais. Esta era ficou marcada pela crença numa força que agia nos humanos e no cosmos; era uma realidade numinosa, fascinante (sobrenatural). O segundo é a era do corpo, que marcará o tempo da conquista da terra, da depuração da técnica. As forças espirituais e psíquicas da era anterior são colocadas sob suspeição e relegadas para o campo da subjetividade, do mundo da magia e da superstição. Deus foi colocado para fora do mundo. O terceiro é a era de nosso tempo, onde urge a necessidade de se re-ligar ao criador e a todo o cosmos[9]. Rubio comenta a atual crise ecológica, também situando o problema a partir do ser humano; contudo, utiliza conceitos bíblico-teológicos para detectar na crise ecológica a existência do pecado, ou, a alienação fundamental do ser humano (alienação de Deus)[10]. Portanto, precisamos urgentemente voltar a crer e esperar pela providência divina, assim como nos ensina Mt 6.25-34.

3. Crer na salvação é crer na redenção de todas as coisas: Cl 1.13-20
É fundamentalmente bíblico o ensino de que a salvação proposta em Jesus Cristo não visa apenas a alma humana. O texto de Cl 1.13-20 mostra claramente que a salvação em Cristo alcançará até mesmo as regiões celestiais, ou cósmicas. Outro texto paulino que evidencia esse ensino é o de Rm 8.19-23. Há ainda a profecia do Novo Céu e na Nova Terra, anunciada por Isaías 65.17-25; e ainda o mesmo sentido repetido em Ap 21.1-8. É nesse sentido que a eco-teologia encontra seu espaço em nosso tempo. O conceito bíblico-teológico da redenção se mostra como relevante objeto de releitura, na tentativa de olhar a salvação proposta em Jesus Cristo muito mais além do que salvação espiritual ou i-material. Como disse Moltmann, a redução moderna da salvação à bem-aventurança da alma ou à genuinidade da existência humana entregou a natureza inconscientemente à desordenada exploração[11]. Ao anunciar o Cristo (Cósmico=que redime todas as coisas), Moltmann diz que o poder redentor não atinge apenas a mente e a moralidade humana, mas toda a natureza; do mesmo modo como a história, também a natureza é “palco da graça e espaço da redenção”[12].
É nesse sentido que o conceito de redenção cósmica se mostra tão atual. De uma vez por todas ele tanto destrói o doentio modelo platônico de salvação da alma apenas, quanto promove a idéia do novo Céu e da nova Terra. O fundamento absoluto de nossa fé cristã está da doutrina da morte e da ressurreição em glória, mas também corporal de Jesus. Para Moltmann, Deus não seria o criador de todas as coisas se não quisesse a redenção de todas as coisas. Segundo ele, a visão da redenção cósmica por meio de Cristo, portanto, não é uma especulação, mas surge de forma lógica da cristologia e da antropologia. Se faltassem esses horizontes, o Deus de Jesus Cristo não seria criador do mundo e a redenção se tornaria mito gnóstico de ódio ao corpo e ao mundo[13].
Ao contrário do que muitos pensam essa releitura não significa diminuir o atributo criador e redentor de Deus; ao contrário, é afirmá-lo ainda mais, porém, dentro de um novo espectro. Desta forma, parece-me que a tarefa mais humilde da eco-teologia deva ser a de trazer Deus de volta para a natureza; é isso que o Boff e Frei Beto chamam de (panenteísmo=Deus criou tudo e se faz presente em toda a sua criação); ou, como Calvino dizia: a criação é o teatro da glória de Deus. Deste modo, o olhar místico, contemplativo e admirável para a natureza, obra das mãos do criador, deve causar em nós a integração entre todas as formas de vida com o cosmos. Certamente essa atitude pacífica entre humanos e natureza, freará o nosso desejo ávido de “consumir”. 

Considerações finais:
Portanto, enquanto esperamos pelo cumprimento profético do novo Céu e da nova Terra, que tal voltarmos nossos desejos para as coisas simples e prazerosas da vida ingênua? Acho que cairia bem o conselho do Eclesiastes:
Coma com prazer a sua comida e beba
gostosamente o seu vinho; goza a vida com o amor que amas.
Procure sempre parecer feliz, enquanto viver nesse mundo de ilusões;
pois, tudo na vida é apenas vapor.

NOTAS

[1] RUBIO, Alfonso García. Unidade na Pluralidade. São Paulo, Paulinas, 1989, p.440
[2] BETO, Frei. In: Mysterium Creationis. São Paulo, Paulinas/Soter, 1999, Artigo: Espiritualidade holística, p.302
[3] Ibidem, p.25
[4] BETO, Frei. Op.cit, p.302
[5] Idem
[6] BOFF, Leonardo. In: Sarça Ardente. São Paulo, Paulinas/Soter, 2000, artigo: O pobre, a nova cosmologia e a libertação – como enriquecer a Teologia da Libertação. P.194
[7] RUBIO, A.G. Op.cit, p.441-442
[8] Citado no “Programa do Jô”. Frei Beto disse que certa vez caminhava pelo Shopping, olhando as vitrinas, quando uma bela moça lhe perguntou: O que deseja, senhor? Ele respondeu: Nada, estou apenas fazendo um passeio socrático! Como percebeu que a moça ficou sem entender, então completou: só estou olhando quantas coisas belas existem; e das quais não necessito de nenhuma para ser feliz.
[9] BOFF, Leonardo. ECOLOGIA, grito da terra, grito dos pobres. São Paulo, Ática, 1995, p.120-121
[10] RUBIO, A.F. Op.cit, p.453
[11] MOLTMANN, J. O Caminho de Jesus Cristo. Petrópolis, Vozes, 1994, p.367
[12] Idem, p.370
[13] Ibidem, p.378

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