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sexta-feira, 15 de março de 2013

REVISTA N°10- LIÇÃO 05- MISSÕES E A GRAÇA DE DEUS

 Dilsilei  Monteiro

O salmista, no Salmo 84.11, afirma que “O Senhor dará graça e glória”. Nisso reside a grande verdade de que a graça de Deus na vida dos eleitos é a promessa de sua glória por vir. Na verdade, é mais do que a promessa, é essencial e indiscutivelmente uma parte da glória em si. Graça atual é a glória futura. Aquele que tem o menor grau de graça em sua alma tem os começos de glória.
Há grande consolação nessa verdade, uma vez que é o cultivo de uma perspectiva eterna que, segundo as Escrituras, nos dá conforto durante os momentos de sofrimento dessa vida.
Ao longo da vida cristã aprendemos que “graça”, por definição, é algo que não podemos ganhar, não merecemos, não considera mérito e que é a nossa única esperança de salvação. Algo muito importante é que a razão de nossa confiança é a Graça de Deus.
A Graça é um dos termos mais preciosos e significativos da Bíblia. Ele fala da livre e incondicional escolha de Deus de um povo para si e eternamente amado. Ele fala de Sua misericórdia para com os miseráveis, de Seu perdão para os culpados, de Seu favor para os perdidos, de Seu amor livre e sem limites para os pobres pecadores.
Certa ocasião, ouvindo o Rev. Wadislau Gomes, obtive uma ainda melhor compreensão da graça. Explicando o termo, contou-nos sobre o hábito de certos lugares de se indagar sobre o nome de pessoas com seguinte pergunta: “Qual a sua graça?”. Pois bem, Rev. Wadislau disse que “a dele”, a graça em sua vida, “era Cristo”. E é exatamente isso, o nosso Senhor Jesus, o dom inefável de Deus, é o depositário da graça. O nosso mediador perfeito é a Cabeça e a Fonte de toda a graça aos seus santos. Nele habita toda a plenitude da graça, no passado, no presente e no futuro!
Isso mesmo, no futuro! Porque a graça de Deus também é escatológica e é nela que funda a segurança da nossa esperança. Por todo o Novo Testamento o que percebemos é o povo de Deus movido por essa expectativa escatológica e, de lá para cá, de tempos em tempos notamos essa percepção da graça de Deus sendo diminuída.
Se as promessas de Deus e seu cumprimento não fossem tão indissoluvelmente ligadas à Sua graça, então todos os incentivos da vida eterna após a morte iriam ter pouco conforto sobre nós ou mesmo nenhum. Em outras palavras, se Deus houvesse prometido aos seus eleitos a vida eterna, mas deixasse-nos a tarefa de alcançá-la, então não haveria nenhuma razão final que nos levasse a ter absoluta confiança de que poderíamos estar diante Dele no porvir. Então, realmente, que esperança haveríamos de ter na consumação não fosse sua graça uma garantia no passado, no presente e no futuro?
Certamente, sem a graça com seus efeitos também na consumação estaríamos envolvidos em um otimismo incerto, ou até mesmo em certo desespero.
É preciso – muito necessário mesmo – ter sempre em perspectiva o futuro maravilhoso que Deus tem preparado para nós, e a esperança da glória que nos será dada mediante a glorificação do corpo ressurreto para a vida eterna, conforme registra o apóstolo Paulo em Romanos 5.2: “Nós nos gloriamos na esperança da glória de Deus“.
O apóstolo Pedro, em sua primeira carta, registra:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas. Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar. Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo;” (1 Pedro 1.3-13)
Nesse registro de Pedro, no capítulo primeiro de sua primeira carta, encontramos que o Deus de toda graça chamou e chama Seu povo à sua eterna glória em Cristo, o perfeito, para confirmar, fortalecer e estabelecer. Esse é o chamado eficaz, esse é o chamado que regenera, que justifica, que resgatou e resgata os eleitos, que os converteu de seus maus caminhos. Mas não é só isso, a obra salvífica de Deus, para alcançar e salvar o povo do Seu pacto, era e é uma obra que pretende produzir glória eterna para Cristo. Nisso reside a glorificação, último ato da salvação.
Segundo Pedro nos ensina, uma legítima perspectiva da graça reside na glória! Ocorre que, se indagarmos a muitos cristãos de hoje, eles não se alegrarão com isso, nem com a volta gloriosa de nosso Senhor Jesus e a própria glória que nos será dada em Sua primogenitura. O que se assiste é cristãos pensando uma vida cristã cuja esperança tem seus limites em nossas experiências daqui, que abandonam a perspectiva da eternidade deixando de contemplar a maravilha do que está por vir por qualquer bocado de conforto mínimo aqui. Portanto, é necessário entender a relação entre a graça de Deus e a Glória porvir para que possamos viver confiantes em uma salvação que, tendo sido concedida a nós pela graça e poder de Deus, nos faz regozijar numa esperança clara e firme da herança que nos está prometida.
Quando falamos da graça, é preciso olhar para o passado e para o presente, mas, sobretudo, para o futuro e para a glorificação. Assim experimentaremos os significativos efeitos disso sobre nós, aumentando a esperança e qualificando a vida dos santos do Senhor. Veja a orientação de Pedro: “Cingindo suas mentes para a ação, mantenham-se sóbrios em espírito”(v.13) e continua a seguir: “esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo”.  Essa graça que nos é oferecida em Cristo é a promessa de uma herança eterna indestrutível, um futuro glorioso na presença de Deus, e deve ser essa a base de toda a nossa esperança, ser aquilo que orienta todo o nosso viver.
A nossa grande dificuldade tem sido pensar sobre o céu como o maior e o elemento culminante da graça. Graça e consumação são indissociáveis e, por alguma razão, não temos entendido isso!
Essa orientação das Escrituras tem profunda relação com o modo em que devemos viver nossas vidas. Paulo em Romanos 8.18 afirma: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.”
É certo, na demonstração de Paulo que, em meio a provações e sofrimento, é crucial que tenhamos uma perspectiva eterna, lembrarmos que os julgamentos temporais e as dores desta vida não podem sequer ser comparados com a glória futura que aguarda o povo de Deus e que o contrário disso nos levará a um conceito muito frágil e muito errado da graça de Deus.
É verdade que já vivemos, pela graça, os efeitos da implantação do reino dos céus naquilo que chamamos de “já e ainda não”, a aptidão dos dois estados com as circunstâncias do cristão é evidente. A graça passada e presente é parte do crente aqui; glória é a recompensa da graça futura. Uma é elemento essencial de sua condição atual, outra é sua condição futura. A Glória em sua plenitude não pode ser realizada na terra, visto que ela pertence a um estado perfeito do ser; e a graça não pode ser exercida no céu, visto que ela se refere ao pecado e à tristeza em suas formas infinitas. Ambas não fazem parte da nova ordem, estão, de maneira absoluta, ausentes dos novos céus e nova terra. Então, enquanto vivemos neste estado imperfeito do ser, somos sustentados, santificados e confortados pela graça, mas, quando somos libertos do fardo do pecado e a alma é despojada de suas vestes terrenas, a missão da graça é cumprida, a sua obra é completa e nós então somos recebidos acima na glória no estágio final da graça.
Portanto, todo crente deve viver ansioso pelo que a graça eterna vai fazer em sua vida. Deve ansiar pela graça futura. Deve se alegrar pela graça no passado. Regozijar-se pela graça no presente. Esperar, inteiramente, na graça a glória que lhe está reservada no futuro.
Neste ponto, ressaltamos que a graça é trinitária. Já assentamos a relação do pai e do filho anteriormente, agora é preciso dizer que é na habitação do Espírito Santo que o crente experimenta não apenas aspectos da graça presente, mas a graça futura, visto que promove os primeiros frutos da glória. Por isso que o apóstolo fala dos santos de Deus como tendo “as primícias do Espírito”.
Na visão que Paulo estabelece em Efésios 1, texto conhecido como os himalaias da Bíblia em razão de sua grande expressão doutrinária, podemos estabelecer o seguinte esboço:
                   – v. 3-6: O papel do Pai na salvação (passado)
                   – v. 7-12: O papel do Filho na salvação (tempo presente)
                   – v. 13-14 O papel do Espírito Santo na salvação (futuro)
O Pai planifica a redenção, o Filho a compra, e o Espírito a aplica.
A obra da salvação glorifica cada pessoa na Trindade, toda a divindade é glorificada na salvação de um pecador. Portanto, é pela economia da trindade que temos uma completa compreensão da graça. É na Trindade completa que somos completamente salvos, em todos os atos, do primeiro ao último. Nenhum deles baseado no pecador, em qualquer bondade ou merecimento, mas unicamente com base na graça de Deus e para a glória de Deus, o Deus que é infinito em merecimento.
A respeito da perseverança dos santos, Hoekema nos ensina que:
“O Espírito Santo está também indispensavelmente envolvido com nossa preservação ou perseverança na fé. Duas figuras bíblicas nos convidam a consideração: “selo” e “penhor”. O Espírito é o selo de nossa final redenção em Efésios 4:30: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual [ou com o qual] fostes selados para o dia da redenção”. Nos dias do Novo Testamento um selo era usado como marca de propriedade; ser selado como Espírito significa ser separado como alguém que pertence a Deus. Nessa passagem, ser selado com o Espírito significa também que o Espírito nos guardará em comunhão com Deus até o dia final da redenção.”[1]
E prossegue adiante:
“Igualmente, em Efésios 1:13 e 14, Paulo encoraja-nos, dizendo: ” … Tendo nele também crido, fostes selados como Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança até o resgate da sua propriedade … “. A palavra traduzida aqui por “penhor” [depósito de garantia], e arrabon, que também pode ser traduzida por “promessa”. Se temos o Espírito em nós, Paulo afirma, temos a segurança de que o futuro de glória, que é nossa herança em Cristo, será um dia nosso – nada poderá nos tirar essa herança!
A palavra arrabon, em relação ao Espírito, é usada em duas outras passagens.
Aprendemos de 2 Coríntios 1:22 que Deus “nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração”. Ele nos deu seu Selo de propriedade e pôs um Depósito em nosso coração. Em 2 Coríntios 5:5 Paulo diz-nos que Deus, que está preparando para nos “um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (v. 1 ), outorgou-nos “o penhor do Espírito”. O Espírito Santo, em outras palavras, de maneira misteriosa – porém maravilhosa – habilita-nos a perseverar no caminho cristão até o dia quando entraremos na posse final da herança numa nova terra glorificada.”[2]
No mesmo sentido, ele afirma em seu livro a Bíblia e o Futuro, que:
“A palavra arrabon, como aplicada ao Espírito, portanto, enfatiza especialmente o seu papel na escatologia. Ela indica que o Espírito, que agora os crentes possuem é a garantia e penhor do complemento futuro de sua salvação ao no eschaton. Enquanto que a designação do Espírito, como primícias, indica a natureza provisória do gozo espiritual presente, a descrição do Espírito, como nossa garantia, implica a certeza do cumprimento derradeiro.[3]
Na última fase dessa salvação graciosa, os santos são fiéis, eles continuam na fé, eles perseveram na fé, essa é a ideia da doutrina clássica “Perseverança dos santos.” Essa frase consoladora aparece em Apocalipse 14.12: “Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”. Que sofrem, mas continuam. E Efésios 1.3 afirma que essa bênção da perseverança é parte da graça e das bênçãos de Deus, que o Pai dá àqueles que Ele separou e fez santos que são fiéis. A preservação da graça de Deus é a bênção espiritual que precisamos para a perseverança na fé, por Sua preservação dos santos, Deus permitindo, capacitando, garantindo, eternamente garantindo a graça que nos mantém permanentes e perseverantes.
A definição dessa doutrina pode ser encontrada na Confissão de Fé de Westminster:
“Aqueles aos quais Deus aceitou em seu Amado, efetivamente chamados e santificados pelo Espirito, não podem, total ou finalmente, cair do estado de graça; eles certamente perseverarão ate o fim, e serão eternamente salvos.”
Essa doutrina da perseverança dos santos está expressa no Catecismo Maior de Westminster, do qual transcrevemos abaixo as perguntas 79 a 81:
Pergunta 79: “Não poderão os crentes verdadeiros cair do estado de graça, em razão das suas imperfeições e das muitas tentações e pecados que os surpreendem?
Resposta: Os crentes verdadeiros, em razão do amor imutável de Deus ( Jr 31:3; Jo 13:1) e do seu decreto e pacto de lhes dar a perseverança ( I Co 1:8; Hb 13:20 e 21; Is 54:10), da união inseparável entre eles e Cristo ( I Co 12:27; Rm 8:35-39), da contínua intercessão de Cristo por eles ( Hb 7:25; Lc 22:32), do Espírito e da semente de Deus que habitam neles ( I Jo 2:27), nunca poderão total e finalmente cair do estado de graça, mas são conservados pelo poder de Deus, mediante a fé para a salvação ( Jr 32:40; Jo 10:28)”.
Pergunta 80. Poderão os crentes verdadeiros ter certeza infalível de que estão no estado da graça e de que neste estado perseverarão até a salvação?
Aqueles que verdadeiramente crêem em Cristo, e se esforçam por andar perante Ele com toda a boa consciência, podem, sem uma revelação extraordinária, ter a certeza infalível de que estão no estado de graça, e de que neste estado perseverarão até a salvação, pela fé baseada na verdade das promessas de Deus e pelo Espírito que os habilita a discernir em si aquelas graças às quais são feitas as promessas da vida, testificando aos seus espíritos que eles são filhos de Deus.
I João 2:3; 1 Cor. 2:12; 1 João 4:13, 16 e 3:14,. 18-21, 24; Heb. 6:11-12; Rom. 8:16; 1 João 5:13; 11 Tim. 1: 12.
Pergunta 81: “Têm todos os crentes sempre a certeza de que estão no estado da graça e de que serão salvos?
Resposta: A certeza da graça e salvação, não sendo da essência da fé, crentes verdadeiros podem esperar muito tempo antes de consegui-la ( Is 50:10; Sl 68); e depois de gozar dela podem sentir enfraquecida e interrompida essa certeza por muitas perturbações, pecados, tentações e deserções ( Sl 31:22; Sl 73:1- 12; Sl 30:6, 7; Sl 51:8, 12); contudo, nunca são deixadas sem uma tal presença e apoio do Espírito de Deus, que os guarda de caírem em desespero absoluto ( Jó 13:15; Sl 73:13- 15)”.
Jesus disse: “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24). Deus também diz em Salmos 97:10: “Ele preserva as almas dos seus santos.” Uma certeza confiante, pela graça, a mesma que Paulo teve até o fim de sua vida está em 2 Timóteo 4.18: “… o Senhor me levará salvo para o seu reino celestial.” A confiança de Paulo era uma grande segurança da graça que havia lhe alcançado e que o levaria à glória final: “Quanto a mim, já estou sendo oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto  juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2 Tm 4.6, 7 e 8).
 J.C. Ryle, em seu livro Santidade, começa seu capítulo sobre a garantia com comentando estas palavras de Paulo:
“Nestas palavras das Escrituras, vemos o apóstolo Paulo olhando em três direções: para baixo, para trás e para diante. Para baixo, a sepultura; para trás, o seu próprio ministério; e para diante, aquele grande dia, o dia do juízo! Ficar ao lado dos apóstolos por alguns minutos e dar atenção às palavras por eles usadas nos faz bem. Feliz é a alma que pode olhar para onde Paulo olhou e, então, falar como ele!”[4]
E ele continua:
“Notemos que o apóstolo falou sem a menor hesitação ou senso de desconfiança. Ele reputava a coroa como algo já garantido, como algo que já lhe pertencia. Ele declara com inabalável confiança a sua firme persuasão de que o Justo Juiz haveria de entregar-lhe a coroa. Paulo não estranhava todas as circunstancias daquele dia solene. O grande trono branco, a humanidade inteira reunida, os livros abertos, o desvendamento de todos os segredos dos homens, os anjos como testemunhas, a temível sentença, a eterna separação entre os salvos e os perdidos. Com todas estas coisas ele estava bem familiarizado, porém, nem uma delas o abalava.
Sua poderosa fé saltava por cima de tudo, e ele via somente a Jesus, seu todo-prevalente Advogado, o sangue da aspersão e os pecados perdoados. Disse ele: “Uma coroa me está reservada”. “O próprio Senhor a entregará a mim” Paulo falava como se estivesse contemplando tudo com os seus próprios olhos.[5]

Esses são os efeitos da segurança das bênçãos trinitárias na salvação. Estar em Cristo é grande segurança porque ninguém pode arrancar-nos da sua mão, ou fora da mão do pai, como nos assegura João 10.27-29. Estar em Cristo, em união com Cristo, é a fonte de toda a segurança. Deus, o Espírito Santo é a mais completa e definitiva garantia para o crente, por sua obra dentro de nós.
Paulo, em Romanos 8.37-39, nos afirma que “em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”
A invencível e irreversível graça de Deus Pai e Deus Filho (Ef .:3-6) tem forte e perfeito apelo para fortalecê-la ainda mais (v. 13-14) somando à atuação da graça do Espírito Santo. Paulo traz mais esta afirmação gloriosa (v. 3-14) garantindo ainda mais bênção mediante a conclusão e culminação pela graça do Espírito Santo de selar e conferir segurança a tudo que Deus Pai e Deus Filho têm feito e não poderá jamais ser desfeito, porque Deus, o Espírito Santo pessoalmente, sela e assegura sua consumação.
Revisando Efésio 1.3-14, vemos que a Trindade é integralmente envolvida no processo de salvar os pecadores, garantindo-lhes a salvação. E isso Deus o faz completamente, do início até o fim, antes que houvesse o tempo (v. 4) e até o fim dos tempos (v. 10, 14). E, nesse contexto, o Espírito Santo oferece a graça de preservar a perseverança dos santos, assim eles vão ter firmeza até o fim.
Não é um poder do homem que o faz firme, mas o poder e a graça de Deus que preservam e mantêm aqueles que são verdadeiramente salvos, e para sempre salvos. É por isso e assim que os verdadeiros crentes perseveram. Devemos persistir até o fim, mas, no final, nossas obras não ganham ou mantêm nossa salvação, é a obra de Deus que nos salva e é a obra de Deus dentro de nós que demonstra que somos salvos.
A esse respeito comenta Anthony Hoekema que, se “deixados por si só, entregues a sua própria força, aos seus próprios recursos, eles indubitavelmente cairiam e perderiam sua salvação. Mas Deus não permite que isso aconteça aos que são seus, aos que ele escolheu em Cristo desde a criação do mundo (Ef 1.4) e que predestinou para serem conforme a imagem do seu Filho (Rm 8.29). Esse é o ponto mais importante; e realmente o cerne da doutrina. Os crentes perseveram apenas porque, em seu imutável amor, Deus os capacita a perseverar.”[6]
E depois continua: “Fica evidente, portanto, que o Reino de Deus, como descrito no Novo Testamento, não é um estado de atividade realizada por meio de conquistas humanas, nem a culminação de esforços humanos extenuantes. O Reino é estabelecido pela graça soberana de Deus e suas bênçãos devem ser recebidas como dons dessa graça.”[7]
Essa garantia bíblica não vem de nenhum de nossos atos passados, presentes ou futuros, mas baseia-se unicamente no que o Espírito Santo fez, está fazendo e fará em nós.
Assim é que a relação entre graça e escatologia bíblica não apenas afirmam nossa esperança na glorificação e na volta do Senhor Jesus inaugurando a nova ordem, mas também nos capacita a viver aqui coerentemente com essa expectativa. O evangelho da graça move o pecador justificado para um labor santo, a um amor ativo na promoção do reino que está se estabelecendo.

Esse é o espírito da pergunta 52 do Catecismo de Heidelberg:

52. Que consolo traz a você a volta de Cristo “para julgar os vivos e os mortos”?
R. Que, em toda miséria e perseguição, espero, de cabeça erguida, o Juiz que vem do céu, a saber: o Cristo que antes se apresentou em meu lugar ao tribunal de Deus e tirou de mim toda a maldição (1).
Ele lançará, na condenação eterna, todos os seus e meus inimigos (2) , mas Ele me levará para si mesmo, com todos os eleitos na alegria e glória celestiais (3).
(1) Lc 21:28; Rm 8:23,24; Fp 3:20; 1Ts 4:16; Tt 2:13. (2) Mt 25:41-43; 2Ts 1:6,8,9. (3) Mt 25:34-36; 2Ts 1:7,10.

E então? Qual o efeito de mudarmos nosso olhar para a graça na perspectiva da eternidade? Vimos que a vida eterna é um dom da graça. A glorificação é o ato final da graça. É a graça final em graça sobre graça. Em que medida essas verdades ancoram nosso viver, toda a nossa vida?
Tamanha imensidão da graça na perspectiva da consumação do pacto, da certeza da glória vindoura, deveria nos conduzir a viver de modo mais íntimo aquilo que é eterno, “as coisas do alto”, conforme a recomendação do apóstolo Paulo aos colossenses.
É preciso estar nesse mundo, mas viver como cidadão dos céus, sem obstáculos e interrupções na comunhão com o Senhor vivo. Experimentaremos isso, em toda a adoração, oração e serviço que prestamos, a cada suprimento da graça, se conscientes de que a glória de nossa preservação não pode ser comparada com a expressão avassaladora da glória eterna.
Pensar nas “coisas lá do alto” é viver na expectativa da graça futura e da glória que nos está prometida, seguindo a recomendação de Pedro, numa firme esperança da  graça final.
A viva expressão da esperança da glorificação passa também pelo anseio pela cidade eterna, conforme Paulo fala aos Filipenses no capítulo 3 e versículo 20: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas.” Em Mateus 25, nosso Senhor, em uma expressão da grandeza dessa glória, disse em meio à parábola sobre os servos: “Entra no gozo do teu Senhor.” Essa é a característica dominante do céu, a plenitude de Deus, de alegria, de satisfação e da exuberância do nosso Senhor.
Diante de gloriosas verdades, que o nosso interesse ​​neste mundo seja na medida da glória do Deus da graça e para o avanço de Seu Reino e muito vago em relação a coisas triviais, e que eliminemos de nossas vidas as disposições contrárias e exultemos em aclamação da graça e da glória do nosso Deus:
Vou à pátria – eu, peregrino -,
A viver eternamente com Jesus,
Que concedeu-me feliz destino
Quando, ferido, por mim morreu na cruz.

Vou à pátria – eu, peregrino -,
A viver eternamente com Jesus!
Vou à pátria – eu, peregrino -,
A viver eternamente com Jesus!

Vou à pátria, vou à pátria – peregrino, peregrino -,
Com Jesus, com Jesus! Com Jesus viver!
Vou à pátria, vou à pátria – peregrino, peregrino -,
Com Jesus, com Jesus! Com Jesus viver!

Dor e pena, tristeza e morte
Lá no céu jamais o salvo encontrará!
E desfrutando de Cristo a sorte,
Eternamente a Deus exaltará.

Terra santa, formosa e pura,
Salvo por Jesus eu entrarei em ti;
Felicidade, paz e ventura,
Perfeitamente desfrutarei ali.
(HNC 193 – Aspiração do Céu)
Soli Deo Gloria!

[1] Anthony Hoekema, Salvos pela graça, p. 40.
[2] idem, p. 40.
[3] Idem, A Bíblia e o Futuro, p. 77.
[4] J. C. Ryle, Santidade, PES, p. 135
[5] Idem, p. 137.
[6] Anthony Hoekema, Salvos pela Graça, p. 226.
[7] Idem, p.58.

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REVISTA N °10- LIÇÃO 04- MISSÕES NO NOVO TESTAMENTO II

 George Gonçalves

Enquanto no Antigo Testamento tinha a tendência centrípeta o Novo Testamento demonstra claramente a atitude ativa, ou seja, centrífuga. Agora a Igreja tem que sair para alcançar o resto do mundo. A Teologia do Novo Testamento e evidentemente missionária. Enquanto o povo de Israel falhou no seu propósito missionário, Deus decidiu organizar um novo povo, que é a Igreja no Novo Testamento, a qual designou a tarefa missionária. O clímax dos propósitos universais de Deus para a redenção do homem é atingido no Novo Testamento.
Falar de missões sem envolver o Senhor Jesus Cristo, que foi o missionário por excelência, ele foi enviado pelo Pai, Deus. "Porquanto Deus enviou o seu filho" (Jo 3. 16).
Só no evangelho de João, a frase "aquele que me enviou" ou "como me enviaste" ocorre quase quarenta vezes.
"O missionário por excelência", o filho de Deus, deixou a glória que tinha com o Pai para tornar-se homem. Portanto, ele fez missões transculturais para valer. Há uma frase de David Livingstone diz que "Deus tinha um único filho e fez dele um missionário".
Estamos usando constantemente o termo missionário, mas afinal o que é um missionário? Os dicionários seculares definem "missionário" como pregador de missões "aquele que Missiona". Para George W. Peters, "É aquele que possui uma mensagem divinamente autorizada com propósito definido de evangelização, de fundação e edificação de igrejas". (PETERS apud OLIVEIRA; CANTO, 1983, p. 120)
Não encontramos o termo "missionário" na Bíblia Sagrada, mas, podemos dizer que Felipe foi um missionário, Barnabé, Paulo, Silas, Timóteo e os doze. Todos eles foram missionários, embora nunca tenham sido definidos como tais. O missionário é um apóstolo porque é um "enviado". Missionário é aquele obreiro dotado do ministério apostólico conforme Efésios 4.11. De certa forma, todos somos missionários. Moddy disse: "Se formos verdadeiros cristãos, então todos devemos ser missionários". (colocar referencia)
"Cada crente no Senhor é um missionário cultural entre os não-salvos do seu próprio povo em sua própria cultura e língua". (MEDEIROS apud OLIVEIRA; CANTO, 1983, p. 120). Missionário é uma pessoa com chamada divina para o ministério, que deixa seu país para ministrar a um povo de cultura ou civilização diferente. A Igreja de Cristo é o instrumento de Deus para atingir seus propósitos na terra. Ela recebeu a ordem de evangelizar o mundo, este é o grande desafio da Igreja de Cristo antes de subir aos céus, o Senhor deixou a ordem mais importante aos seus discípulos (Mc 16.15) fazer missões é uma ordem, um mandamento bíblico, não meramente uma opção, um parecer ou uma recomendação.
Portanto, a grande comissão ou o grande desafio não foi dado aos anjos e sim aos homens como eu e você (Mt 28.19,20) missões é levantar os olhos "erguei os olhos e vedes os campos" (Jo 4. 35). Jesus não inovou ao proferir para a grande comissão. Está em perfeita sintonia com a mensagem das escrituras do Antigo Testamento o anúncio das boas novas aos gentios estava previsto na palavra de Deus ao missionário Abraão (Gn 12.3) abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
No Novo Testamento encontramos a Igreja realizando missão centrífuga que em física (a força rotativa que impele os objetos de um centro para fora), ou seja, a Igreja primitiva enviando missionários para fora dos seus limites culturais com o objetivo de atingir outros povos. Em (Lc 10.2) no grego a palavra enviar é "Ekballo" dá o sentido de "tirar com força" ou "lançar para fora." veja a figura.

Portanto, a natureza da missão da Igreja é missão centrífuga, requer-se que vá a outras gentes e as ganhe, onde quer que se encontrem, para a causa de Cristo. Depois de ganhar para Cristo, devem formar extensões da Igreja em seu próprio país a seguir, esse povo mesmo, levará a cabo missões centrífugas. Saindo a pregar.
Em Marcos 16.15 lemos: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura". Já falamos que no Novo Testamento Jesus transfere esta responsabilidade para a sua Igreja à Nova Nação Santa (I Pe 2.9).
Em Jo 20.21-23 Jesus identifica os discípulos com os propósitos eternos do Pai "assim como o pai me enviou, também eu vos envio a vós." Aqui também a palavra envio está no sentido contínuo Jesus está sempre enviando.
Missões é uma tarefa tão grande e tão desafiadora que implica a inclusão de todos os crentes. Nem uma igreja pode omitir-se, nem um crente pode negar sua responsabilidade.
Podemos ir até mais longe, enfatizando que missões é responsabilidade de cada crente de cada igreja. Ninguém pode desculpar-se por não estar participando.
Se o Pastor tiver amor por missões, a igreja vai adquiri este amor, o pastor é a pessoa chave para as missões.
O Espírito Santo é o poder para as missões. Os discípulos deveriam ficar em Jerusalém até serem revestidos desse poder, pois não podiam começar a obra de Deus sem o revestimento de poder.
O Espírito Santo, ele conduz os discípulos a entenderem que o evangelho também é para outros povos (At 10.44.49). Ele guia os obreiros ao campo missionário (At 8.26; 16.6,7) e chama os obreiros às missões transculturais. (At 13.2).


3.1 Missões na Igreja em Antioquia
A Igreja em Antioquia da Síria é conhecida como a agência missionária, ou seja, o centro de missões. Ela serve como exemplo, pois foi à base missionária do avanço da Igreja primitiva no alcance dos outros povos.
A Igreja em Antioquia foi o resultado de uma forte perseguição que sobreveio à Igreja em Jerusalém.
A Igreja em Jerusalém estava voltada apenas ao trabalho da cidade, esquecida Judéia, Samaria e dos confins da terra, quando Deus permitiu uma forte perseguição.
Existe hoje em dia a idéia de que a Igreja precisa ser perseguida para que cresça, esta idéia é contrária à ênfase do Novo Testamento, pois conforme o livro dos Atos dos Apóstolos conhecido como o manual de missões, a Igreja foi perseguida porque crescia. Foi o crescimento que causou a perseguição, e não ao contrário a perseguição, depois causou a dispersão, que pela providência de Deus, resultou em plantações das igrejas em muitos lugares (1 Pe 1. 1-3)
A Igreja em Antioquia enviou missionários (At 13. 1-3) "e impondo sobre eles as mãos, os despediram", "é símbolo de autoridade em enviar", ela está aprovando a pessoa para ser representante de Deus e daquela igreja local ou denominacional. Então a Igreja tem que reconhecer sua responsabilidade na vida dos seus missionários em orar, contribuir, amar, socorrer e compreender, isto fez a Igreja em Antioquia. Rohden (Ano e Página) descreve em detalhes a partida dos missionários enviados pela igreja em Antioquia:
Barnabé e Paulo, acompanhados dos presbíteros e todo povo, atravessaram a "avenida marmórea" e a ponte sobre Orontes e descem ao Porto de Selêucia [...] o pequeno grupo de cristãos, como se refere Lucas ajoelha nas areias brancas da praia, orando com fervor e chorando em silêncio [...].
A Igreja em Antioquia serve de modelo para nós hoje, Donald Stamps, autor da Bíblia de Estudo Pentecostal, sustenta: "Pela imposição de mãos e o envio de missionários, a igreja indica que se compromete a sustentar e assistir os que saem à obra". ( ANO e Página)
O Pastor José Satírio dos Santos recomenda:
Ao sair para o campo missionário, o obreiro deve ter garantidos o salário (condizente com a realidade do país de destino) e moradia. Se possível, também um veículo e havendo recursos suficientes, o financiamento para a construção, compra de propriedades e adequação de estrutura de trabalho. [....]. (ANO E PÁGINA)
O pastor ainda nos adverte: "não vejo outra forma de fazer missões com eficiência".
Muitos saem ao campo missionário por que se encantam com a palavra "missionário" e saem para o campo sem experiência, sem preparo e muitos nem sabem o que é a obra missionária. Outros saem porque um "profeta" falou sobre o assunto, sem o próprio candidato não ter plena convicção e certeza da chamada, e o resultado sem dúvida será fracasso na obra missionária.
A Igreja em Antioquia dava ouvidos à voz do Espírito Santo, a Igreja ouvia o que o Espírito Santo tinha a lhes dizer; e você tem ouvido o Espírito Santo falar com você sobre missões?
A Igreja em Antioquia deu o melhor para missões. O Espírito Santo separa, prepara, capacita e impulsiona a Igreja a enviar obreiros para o trabalho missionário. 


3.2 Missões na vida do missionário Paulo
Falar em missões sem mencionar o missionário Paulo, não estamos falando sobre missões na sua totalidade, porque podemos afirmar que depois de Jesus, Paulo foi o maior missionário de todos os tempos. E missões, Paulo fez com eficiência. Ele considera-se um abortivo (1 Co 15. 8) para desempenhar seu mistério entre os gentios, sendo considerado apóstolo deles o que o Senhor fala a Ananias (At 9. 15; Gl 1.15,16).
Consideramos duas passagens bíblicas, onde Paulo fala da sua visão de levar o evangelho a povos que viviam longe da luz do Senhor Jesus (Rm 15. 19-20; 2 Co 10. 15).
Paulo era aquele missionário que se esforçou por anunciar o evangelho, ele procurava pregar dando atenção especial aos lugares onde ainda não havia um trabalho organizado. É por isso que seu coração ardia pela Espanha: "Penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado [...] passando por vós irei à Espanha" (ROMANOS, 15. 24, 28).
Nenhum trabalho ou feito próprio era motivo de orgulho para Paulo a não ser o
Senhor Jesus somente (2 Co 10.17)
Paulo considerava o missionário como um lançador de fundamentos, de maneira que pregar onde já havia um trabalho estabelecido, significava edificar sobre o trabalho de outro, causando choques, contendo desperdícios de tempo e dinheiro, e até os prejuízos morais para a obra de Deus.
Paulo escreveu em grego cuja a transcrição simples seria "yperhekeina ymon" que significa "lugares além de vós", ARC [Almeida Revista Corrigida]; ou para além das vossas fronteiras ARA [Almeida Revista Atualizada] (2 Co 10.16).


3.2.1 Paulo e sua primeira viagem missionária
Apesar de sua confiança e do chamado divino para as missões Paulo entra em um período de inatividade durante sete ou oito anos, poucos se ouvia falar dele. Mas aqueles anos foram de espera, disciplina e paciência. Ele tinha uma missão, mas faltava-lhe oportunidade. Ele aprendeu que as delongas de Deus têm sempre um propósito; nada sai errado em seu cronograma.
Depois de várias reuniões e muita oração, os líderes da Igreja entenderam que era a vontade de Deus que enviasse. A sua primeira viagem missionária está registrada em (At 13. 1 - 14, 28), Barnabé e Paulo ou os missionários levaram com sigo o jovem Marcos. Quando a primavera chegou aos montes da Síria, os três partiram; muitos irmãos estavam lá para se despedirem deles. Os missionários caminharam pela longa estrada pavimentada que os levaria ao porto da Selêucia (Porto do Mar Mediterrâneo sendo também uma das principais cidades da Síria) onde havia grande atividade. A sua primeira viagem missionária durou cerca de dois anos (48 a 49 d.C.).
Em atos 3.6 "E, havendo atravessado a ilha até Pafos". Dá idéia de uma campanha evangelística. Lucas que escreveu o livro de Atos mencionou trinta e dois países, cinquenta e
quatro cidades e nove ilhas. Significa "uma turnê evangelística em toda a ilha".


3.2.2 Paulo e sua segunda viagem missionária
Paulo agora leva consigo Silas (At 15. 40-41) "E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu," passou pela Síria e Cilícia eram duas províncias, Paulo visitou as igrejas que já estavam organizadas ali, essas igrejas foram plantadas pelo esforço da Igreja em Antioquia, que era uma Igreja missionária, e de Paulo quando passou dez anos em Tarso (At 15. 23; Gl 1. 21). A segunda viagem missionária de Paulo aconteceu em 50 ou 49 d.C. perseguiu por terra rumo ao norte, atravessando os "portões da Síria" e Cilícia até o sul da Galácia.
Derbe – Quando fora a primeira vez fizeram muitos discípulos, em Listra Paulo encontrou um discípulo por nome Timóteo (At 16. 1) e o mesmo acompanhou Paulo nesta segunda viagem missionária. Frígia, Galácia e Mísia região que foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia (At 16. 6-7).
Paulo a noite teve uma visão em que se apresentava um varão da Macedônia e lhe rogava, dizendo: "passa a Macedônia, e ajuda-nos".
O missionário nos dias de hoje precisa ter visão como tinha o missionário Paulo. Depois desta visão Lucas registra "E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho. (v. 10). Tudo indica que Lucas se juntou com a equipe missionária. 
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REVISTA N° 10- LIÇÃO 03- MISSÕES NO NOVO TESTAMENTO I

 Anderson Babosa


No desdobrar da revelação através da Bíblia, a ideia do reino passou a ter mais significado missiológico, visto que a proclamação do reino passou a ser a mensagem central de Jesus conforme registrado no início do seu ministério (Marcos 1.15 NVI), “O tempo é chegado”, dizia ele. “O reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!”. Logo após a sua ressurreição (Atos 1.3 NVI), “Depois dos seus sofrimentos, Jesus apresentou-se a eles e deu-lhes muitas provas indiscutíveis de que estava vivo. Apareceu-lhes por um período de quarenta dias falando-lhes acerca do Reino de Deus”.
 
Portanto, vale frisar que o reino de Deus não é principalmente político, o reino de Deus demonstra sua soberania e administração sobre toda a criação agindo em todos os aspectos, na vida pessoal e social, atingindo todos os relacionamentos familiares, comunitários, econômicos e políticos.[1]

A missão de Jesus foi uma demonstração concreta da ação libertadora e salvífica de Deus e o anúncio de uma nova ordem de valores através do Seu senhorio. Esta demonstração atinge as áreas de mais aflições humana, fome, doença, pobreza, no objetivo de evidenciar e efetuar o reinado no mundo sujeito as maldades e corrupções espirituais, morais e sociais.  “Missão, portanto, é a tarefa que visa antes da formação doutrinária e institucional, a participação humana e profunda com Jesus, isto é, a fé no libertador”.[2]

Todas as ações de Jesus relatadas nos evangelhos apontam para os princípios e fundamentos da missão integral. “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” (Lucas 4.18-19).[3]

A missão integral restabelece uma cristologia a partir dos evangelhos, destacando sua vida, sua prática, sua mensagem, seus exemplos, sua mediação, seu senhorio e sua salvação, e se aproximando dos acontecimentos de Jesus para situá-lo em seu contexto social, econômico e político.

Dentro desta busca, a velha e sempre nova pergunta sobre quem foi e quem é Jesus é primordial para levar a sério a fé em Jesus Cristo, que afeta a vida, o caráter e o comportamento com a humanidade e o mundo. “O problema da cristologia na proclamação do evangelho afeta toda a vida e a missão da Igreja, o comportamento ético dos cristãos no mundo e mesmo a totalidade da nossa fé cristã”.[4] A missão integral evidencia a inter-relação de Jesus com Deus, sendo Deus feito Homem, possuindo duas naturezas distintas e perfeitas, a divina e a humana.

Cremos que Ele possui uma inter-relação eterna e essencial com Deus e que nenhuma outra pessoa tem. Não o consideramos como Deus disfarçado de homem e tão pouco um homem com qualidades divinas; cremos que ele é Deus feito homem. Estamos persuadidos que Jesus foi personagem histórico possuindo duas naturezas distintas e perfeitas – uma divina e outra humana – sendo nisto única, absolutamente e para todo o sempre. Só assim poderia Ele ser merecedor não só de nossa admiração, mas também de nossa adoração.[5]

E esta misteriosa dualidades constitui na base da proclamação apostólica de Jesus como o“Santo e Justo”( At 3.14; cf 7.52), o “autor da vida”(At 3.15), o “santo Filho” de Deus (At 4.27; cf 8.32ss), que, tendo sido morto “por (uper) nossos pecados” (1 Co 15.3) e, tendo sido elevado de entre os mortos, foi exaltado como o Kyrios de todo o universo (At 2.36; 10.36; 11.20). Nas palavras de Paulo, Jesus “(…) a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome (…)” (Fp 2.8-9). O coração do evangelho é Jesus Cristo: aquele que, mesmo sendo o Senhor exaltado, segue sendo um Messias crucificado (Christos estaurómenos) e, como tal, “poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1.23-24; cf. 2.2).[6]

Jesus no seu ministério enfatizava a libertação da humanidade, (Mateus 12.22-28; Lucas 11.14-23; João 8.32; Gálatas 5.1-13) e também de toda criação, (Romanos 8.20-21). Os milagres e curas realizados por ele evidenciaram a chegada do tempo da graça e da vitória sobre satanás (Mateus 11.4-6), trazendo a libertação integral. Jesus está preocupado com o homem todo e com todas as suas necessidades. Assim é necessário que se tenha consciência que é dever dos cristãos, visitar aqueles que estão nas prisões, Jesus disse: “necessitei de roupas e vocês me vestiram; estive enfermo e vocês cuidaram de mim; estive preso e vocês me visitaram” (Mateus 25.36), e aqueles que estão doentes e necessitados de cura (Tiago 5.14).[7]

Ninguém demonstrou tanto quanto o senhor Jesus Cristo o que significa esta “santa mundanidade”. Sua encarnação é a perfeita encarnação dessa mundanidade. Por um lado ele desceu ao nosso mundo e assumiu a completa realidade da nossa humanidade. Tornou-se um conosco em nossa fragilidade, expondo-se as tentações. Comungou com gente comum, que se juntava ansiosamente ao seu redor. Ele aceitou todo mundo, sem desprezar ninguém. Identificou-se com as nossas tristezas, nossos pecados e nossa morte. Contudo, ao misturar-se livremente com gente como nós, ele nunca sacrificou nem comprometeu sequer por um momento a sua própria identidade e unicidade. Ele vivenciou a perfeição da santa mundanidade.[8]

Em (Mateus 9.35-36), observa-se isso: “Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor”. “A missão que Cristo tem para seus discípulos surge de uma nova autoridade e de um novo poder e se expressa numa nova maneira de viver que pode ser vista e reconhecida por outros no seu meio”. [9]

Ao falar sobre a visão contemporânea da ação social e evangelização na América Latina, Antônio José, faz a seguinte declaração.  “O amor de Deus deve ser compreendido como abrangente e completo”. Os cristãos devem fazer o bem a todos, “portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé (Gálatas 6.10 NVI). Ainda apresenta outro texto sagrado “Tenham cuidado para que ninguém retribua o mal com o mal, mas sejam sempre bondosos uns para com os outros e para com todos” (I Tessalonicenses 5.15).[10] Segundo Antônio José, “o mandamento de amar deve manifestar interesse pelo homem em todas as suas dimensões. O amor de Cristo deve alcançar o não-salvo com o evangelho”. “Pois o filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (Lucas 19.10).[11]

A obra de evangelização da igreja primitiva, registrada principalmente no livro de Atos, mostra um grande trabalho que avançou estrategicamente para outras cidades. Era uma realização de comunidades cristãs urbanas que se mobilizavam motivadas pelo amor a Jesus, em testemunhar da salvação aos perdidos em obediência aos propósitos de Deus.[12]

Portanto, quando o assunto é missões, no Novo Testamento pensa-se na grande comissão de (Mateus 28.16-20). É indiscutível que a grande comissão desempenhou um papel preponderante na obra missionária do primeiro século.[13] Vale ressaltar que a missão é fundamentalmente, o cumprimento de um mandamento que Cristo deu aos discípulos para a pregação do evangelho a todas as nações da terra. Assim como o povo de Israel foi escolhido para que as outras nações conhecessem ao Senhor, assim também é a ordem de Cristo para os cristãos.[14] O Dr. Samuel Ulisses ao abordar o assunto fez o seguinte relato com relação ao ministério de Jesus,

Jesus envia seus discípulos, que em seu nome, rompem barreiras geográficas, étnicas, ideológicas, sociais, culturais, religiosas e lingüísticas, levando ao mundo o evangelho integral. Tendo todo o mundo como campo missionário, cumprindo Gn 12.3, Gl 3.29, reconhecendo como o Pai enviou o filho e como o Filho nos enviou (Jo 17.18).[15]

Segundo Padilla, esse mandato é precedido por uma afirmação da dimensão universal da autoridade de Jesus Cristo. “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (v.18). Entende-se que a autoridade de Cristo é a base para missão e foi nessa base que os discípulos foram comissionados.

O imperativo “fazei discípulos” nas quatro vezes que aparece em todo o Novo Testamento, três estão em Mateus (13.52; 27.57;28.19 e Atos 14.21). Portanto, “A comissão que ele delega a seus apóstolos e, por conseguinte, à igreja, consiste em fazer discípulos que o confesse como Senhor de todo o universo e que vivam à luz dessa confissão”.[16]

Para o autor, a grande comissão é mais do que um mandato evangelístico centrado na igreja. Sua função é mostrar as pessoas que Jesus Cristo é o Senhor do universo e que isso deve ser reconhecido por todos, e que o povo de Deus execute a sua ordem que está relacionada a todos os aspectos da vida humana.

A ideia da grande comissão é um chamado à missão integral, é uma convocação para que os discípulos participassem da formação de pessoas que se tornariam cidadãos do reino dispostos a obedecer a Deus em tudo. Consequentemente é o papel da igreja que tem o Espírito de Deus, viver dessa forma e agir nos dias atuais trazendo mudanças até a consumação dos séculos.[17]

A Bíblia, então, é essencialmente um livro missionário, visto que sua inspiração deriva de um Deus missionário. O termo missionário vem do latim, que, por sua vez, traduz a palavra grega apóstolos, a qual significa o enviado. “Jesus usou este termo para destacar o relacionamento entre Deus Pai, e Deus Filho e seus discípulos, quando disse: Assim como o pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21).[18] “Jesus Cristo cumpriu as promessas de Deus feitas a Abraão, Moisés e Davi. Estabelecendo assim o início de uma nova criação e do reino de Deus, em que todas as nações serão abençoadas, (Atos 3.25-26; Gl. 3.16)”.[19]

A mensagem de Jesus pregada para os judeus e a mensagem da igreja primitiva pregada aos judeus e gentios tem uma proposta única de anunciar a inauguração do reino. O impacto que Jesus causou nos discípulos e na igreja, envolveram tanto pobres e desprezados, ricos e poderosos e também a classe média, mostrando que o cristianismo agregava todas as pessoas, onde a justiça de Deus se instalara em todas as dimensões pessoais e sociais.[20]

No Novo Testamento, Jesus determina a natureza e o estilo de seu ministério de acordo com os fatores do contexto. Quando ministra a membros da classe alta, como os saduceus, fariseus, professores da lei e escribas, ele se concentra especialmente na pregação e em discursos teológicos. Por outro lado, quando ele se encontra em meio a multidão, ele não só prega e ensina, mas também cura e dá de comer. Em alguns contextos, seu ministério principal é curar. Em cada caso, os tipos de necessidade da sua audiência são os fatores que determinam a ênfase do seu ministério. Quando ele envia os doze a uma missão de pregação e cura, descrita em Mateus 10, ele os instrui quanto a como atuar, dependendo da receptividade das pessoas.[21]

“Os apóstolos são o núcleo de testemunhas que vão proporcionar continuidade entre a história de Jesus e a da igreja; seu papel distinto consiste em proporcionar um elo autorizado entre Jesus e a igreja”.[22] Nessa perspectiva David Bosch, argumenta a posição do apóstolo Paulo, o qual ensinava que a salvação em Cristo deve ser oferecida ao mundo gentílico. Para fazer com que o evangelho fosse anunciado, ele se desdobra numa tensão criativa entre a lealdade aos primeiros apóstolos e a mensagem deles, e também uma consciência irresistível da singularidade de sua própria vocação e incumbência (Romanos 15.15-21).[23]

Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por Deus, para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo. Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus. Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo, esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio; antes, como está escrito: Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito.[24]

Paulo era um judeu comprometido e zeloso, mas a sua conversão provocou uma mudança radical no seu estilo de vida e na sua visão do mundo. Aqueles que provam o dom universal da salvação são aqueles que respondem ao evangelho com fé. Segundo Carriker Paulo era ciente de que tantos judeus quantos gentios estavam debaixo do senhorio do pecado, da morte e de carne, antes de Cristo.

Portanto tanto judeus, como gregos, são justificados através da fé em Jesus Cristo.[25] (Rm. 3.21-23), “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”[26] (Gálatas 2.15-16; 3.15-19).

Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios, sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.[27]
Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa. Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo. E digo isto: uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa. Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão. Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. [28]

O cristianismo no primeiro século era mais heterogêneo do que qualquer outro grupo dentro do império Romano, mostrando que a heterogeneidade era fato sociológico e exigência teológica. Desta forma entende-se que desde o início o crescimento da igreja não deve ser concebido teologicamente em termos homogêneos.[29] Entende-se a partir disso o que Lucas quer mostrar no livro de Atos 2.42-47.

E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.[30]

Entende-se que foi numa perspectiva integral que a igreja primitiva agiu no sentido de atender as necessidades da comunidade dos fiéis. Percebe-se que o evento de pentecostes indica que a tarefa continuará como Jesus havia prometido no Evangelho de Lucas. “As quatro vezes que o Espírito é derramado sobre a igreja em Atos (2.3; 8.15; 10.44-45; 19.6) há também uma nova expansão missionária sempre acompanhada por sinais milagrosos”.[31]

A ligação entre Jesus e a igreja numa perspectiva lucana tem por objetivo instruir a igreja sobre a natureza e escopo da missão que vai além de qualquer barreira humana e toda a estrutura de Atos demonstra a penetração do evangelho na Judéia, Samaria, até aos confins da terra (Atos 1.8).[32]

Entende-se que o conteúdo do ministério da igreja é o mesmo do ministério de Jesus. A função da igreja primitiva foi de anunciar o arrependimento e o perdão (Atos 2.38; 3.19,26; 8.22; 10.43; 13.38; 17.30; 20.21; 26.18-20).[33] “O ministério de Jesus é um ministério de salvação e define a vinda do reino de Deus”.[34] Assim, os resultados do Espírito Santo (2.43-47; 4.32-35) formavam a comunidade do povo de Deus.

Portanto, as conseqüências da comunhão ousada no partir do pão exercida por Jesus no evangelho, determinam o abraço da igreja do mundo gentílico. O banquete escatológico de Israel inclue agora não só “os pobres e aleijados, os cegos e os coxos” da ruas e becos da cidade, mas também os convidados distantes dos “caminhos e atalhos (Lucas 14.15-24).[35]

A igreja do primeiro século estava envolvida na sociedade dando-lhe testemunho, que consistia em boas obras (1 Pedro 2.12-14; 4.19) era ensinada a ter senso de esperança, a fim de que o seu testemunho fosse visível. O papel do cristão numa perspectiva integral deve ser de participantes ativos na sociedade, porém com total reverência a Deus (1 Pedro 2.16-17). Todas as ações dos cristãos devem ser para dar ao mundo a razão da esperança que eles têm em Cristo Jesus. A evangelização e a ação missionária têm tanto a sua origem e fonte divina quanto seu exercício humano. A proclamação precisa ser acompanhada pela revelação divina para haver mudança no ouvinte.[36]

A missão de Jesus é dada também para os seus seguidores. A história terrestre de Jesus termina com a transição da obra missionária para a sua igreja. Como Cristo sendo Deus se tornou homem e concretizou o significado de Deus, a igreja deve se contextualizar para cumprir a missão. Sabendo que é através da operação do Espírito Santo que a ajuda e capacita na realização da sua tarefa.[37]


[1] Ibid., p96
[2] Ibid., p191
[3] BIBLIA SAGRADA. Op. Cit. p1020.
[4] E. COSTAS, Orlando. Proclamando a Cristo no Mundo dos Dois Terços. Editado por STEUERNAGEL,Valdir Raul, A Serviço do Reino: Um Compêndio sobre a Missão Integral da Igreja, p. 181.
[5] STOTT, Jonh R. W.. Cristianismo Básico. Trad. Flávia Brasil Esteves.São Paulo: Edições
Vida Nova, 1999, p. 23 e 24.
[6] PADILLA, René. Missão Integral: Ensaios sobre o Reino e a Igreja. São Paulo: FTL-B e Temática Publicações, 1992, p. 82.
[7] FILHO, Antonio José do Nascimento. O papel da Ação Social na Evangelização e Missão na América Latina. Uma Visão Contemporânea. Primeira edição 1999. LCP Comunicações. Campinas SP. 105p.
[8] STOTT, Jonh R. W. Ouça o Espírito, Ouça o Mundo: Como ser um Cristão Contemporâneo. Trad. Silêda Silva Steuernagel. 2ª Ed. São Paulo: EBU Editora, 1998. p. 270
[9] CARRIKER. Op. Cit., p187.
[10] COMBLIN, José. Teologia da missão. Editora vozes Ltda. Petrópolis RJ. 1980. 93p.
[11] Ibid. 93p.
[12] HORRELL, J. Scott. Ultrapassado barreiras: igrejas inovadas e métodos bíblicos que brotam no Brasil. São Paulo: Vida Nova, 1995. p.171.
[13] PADILLA. Op. cit., p31
[14] Ibid p.31
[15] Dr. Samuel Ulisses. Introdução a Teologia Bíblica de Missões. Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo Ashbel Green. Simonton.
[16] Ibid. p33
[17] Ibid. p34
[18] CARRIKER. Op. Cit., p12.
[19] CARRIKER, C. Timóteo. A Missão Missionária na Bíblia: Uma História de Amor. Viçosa-MG, Ultimato, 2005. p61.
[20] CARRIKER. Op. Cit., p184.
[21] YAMAMORI, Tetsunao & PADILLA, C. René & RAKE, Gregorio. Servindo com os Pobres: Modelos de Ministério Integral. Tradução: Hans Udo Fuchs. Curitiba – Londrina: Editora Descoberta, 1998, p22.
[22] BOSCH. Op. Cit., p156
[23] Ibid.  p166
[24] Ibid. p167.
[25] CARRIKER. Op. cit., p230
[26]BIBLIA SAGRADA. Almeida Revista E Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1993; 2005.
[27]Ibid.
[28]Ibid.
[29] CARRIKER. Op. cit., p183
[30]Sociedade Bíblica do Brasil: op.cit., At. 2.42-47
[31] CARRIKER. Op. cit., p195
[32] Ibid. p202-203
[33] Ibid. p205
[34] Ibid. p209
[35] CARRIKER. Op. cit., p209
[36] Ibid. p244
[37] Ibid. p264

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Anderson Barbosa