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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Revista 08- LIÇÃO 04- DESAFIO À ÉTICA


AUXILIO 02

Definição do que venha a ser cristão

Edelcio Serafim Ottaviani

Devemos confessar que ficaríamos extremamente surpresos se perguntássemos a um católico ou a um protestante ( evangélico ) de qualquer denominação ( anglicana, luterana, presbiteriana ( Calvino ), anabatista, pentecostal e de "Cura divina" )[1] qual é a sua identidade substancial, quer dizer, que subjaz a sua expressão religioso-existencial, e ele não nos respondesse que é ser cristão.
Sabemos que existe uma série de predicados essenciais que distinguem ou aproximam um luterano de um presbiteriano, um católico de um metodista; no entanto, nenhuma destas denominações existiria se não houvesse algo que as sustentasse.
Sem escandalizar ninguém, poderíamos dizer que pertencer a uma ou outra destas denominações é acidental, pois o essencial mesmo é ser cristão. Alguns são católicos ou protestantes por razões culturais ou existenciais, mas é certo que pelo batismo em uma destas igrejas, e em alguns casos por sua confirmação, assumimos um modo de ser que julgamos estar mais próximo do modo de ser de Jesus.
Podemos concluir com isso que : existe uma pluralidade ou diversidade de modos de ser que têm por paradigma o modo de ser de Jesus e que: ser cristão é pressuposto ao ser católico ou protestante e denomina o modo de ser ou de pensar cuja fonte de inspiração se encontra nos ensinamentos e nos atos de Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho de Deus vivo. 

1.3 Determinação conclusiva da expressão Ética cristã.
Partindo dos argumentos supracitados, podemos definir a Ética Cristã como a constituição dinâmica de uma consciência coletiva, cujos valores e atitudes encontram seu embasamento no modo de ser de Jesus e cujo pensamento seja capaz de analisar, criticar e consequentemente julgar idéias, hábitos, valores e comportamentos em estruturas político-sociais e cuja finalidade é de levar toda e qualquer sociedade ao cumprimento da justiça e à consolidação da felicidade a da paz, tais como foram expressos no discurso inaugural de Jesus ( As Bem-aventuranças ):
Felizes os pobres de coração : deles é o Reino dos Céus.
Felizes os mansos : seu quinhão será a terra.
Felizes os que choram : eles serão consolados.
Felizes os que têm fome e sede de justiça : eles serão saciados.
Felizes os misericordiosos : eles alcançarão misericórdia.
Felizes os corações puros : eles verão a Deus.
Felizes os que agem em prol da paz; eles serão chamados filhos de Deus.
Felizes os perseguidos por causa da justiça : deles é o Reino dos céus.

Felizes sois vós quando vos insultam, vos perseguem e mentindo dizem contra vós toda espécie de mal por minha causa. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque grande é vossa recompensa nos céus : Foi assim, com efeito que perseguiram os profetas que vos precederam. ( Mt 5, 3-12 ).

Tudo isso nos leva a concluir que: a Ética Cristã e a consciência moral que a acompanha estão intrinsecamente ligadas ao anúncio e à busca do Reino de Deus ou do modo de Deus reinar sobre a terra com o qual as Bem-aventuranças estão intrinsecamente ligadas: buscai primeiro o Reino e a justiça de Deus e tudo o mais vos será acrescentado ( Mt 6,33 ).

Como diz André Myre :

É a intuição que Jesus tem de seu Deus que governa sua vida e o faz escolher aqueles aos quais vai falar de Deus ( = anunciar a boa notícia aos pobres ). Pois bem, é óbvio que Jesus não se dirige a um grupo social ou religioso que se teria preparado de modo especial para receber Deus e que teria as disposições religiosas requeridas para isso, a um pequeno resto de gente particularmente piedosa, escolhida dentre uma massa do mundo destinada à perdição. As disposições interiores nada têm a ver com a escolha de Jesus; este dirige-se aos pequenos, aos marginalizados sociais, aos enfermos, aos desfavorecidos, à pobre gente vítima da injustiça, a esse tipo de pessoas que não têm esperança alguma nesse tipo de mundo. E a eles anuncia que Deus os ama. É preciso insistir : essa proclamação, nada tem a ver com o valor moral, espiritual ou religioso dessa gente. Estão exclusivamente baseadas no horror que o Deus que Jesus conhece sente pelo estado atual do mundo e na decisão divina de vir a restabelecer a situação em favor daqueles para os quais a vida é mais difícil. Jesus revela Deus, não a vida espiritual de seus ouvintes.[2]
A Ética Cristã é pois a forma analítica e crítica com a qual os cristãos pensam e agem num movimento dialético constante, onde a tábua de valores que regem a sua vida é constantemente reavaliada cada vez que um dado ou um argumento novo é apresentado ao seu conjunto, seja pela vida comunitário-religiosa ou social, seja pelas ciências com as quais é obrigada a dialogar.

2. Desafios
Após termos delimitado a compreensão do que venha a ser Ética Cristã, passemos à segunda parte de nossa reflexão que visa responder ao tema propriamente dito: Desafios à Ética Cristã.
Três, seriam ao meu ver, os níveis de desafios que se apresentam à Ética Cristã, a saber: desafio hermenêutico, desafios internos e, finalmente, desafios externos.

2.1 Desafio hermenêutico.
Este nível de desafio caracteriza-se pela necessidade de se encontrar um denominador comum ou uma compreensão consensual sobre alguns traços fundamentais que determinam o modo de ser de Jesus, paradigma dos diferentes modos de ser cristão.
Esta compreensão consensual constitui o que poderíamos chamar de a priori ou desafio hermenêutico ( contra as resistências que não crêem que seja possível esta determinação consensual, vale a pena nos reportarmos ao grande passo que foi realizado recentemente no campo confessional : Uma declaração que será assinada no próximo dia 31 de outubro pelo Papa e os representantes das igrejas luteranas a respeito da Salvação ( vide artigo da Folha de São Paulo - Caderno "Folha Mundo" de 19 de setembro de 1999 ).
Entretanto, é sempre bom lembrar que esta determinação consensual do modo de ser de Jesus não encontrará sua resolução no campo teórico se, ao meu ver, não mantiver um vínculo efetivo com a exegese bíblica ( estabelecendo quando possível a distinção entre o Jesus pré-pascal e aquele anunciado pelos discípulos após a ressurreição ) e o campo da praxis pastoral.

2.2 Desafios internos.
Na tentativa de estabelecermos o modo de ser de Jesus como paradigma os diferentes modos de ser cristão, estabelecer um diálogo constante a respeito de questões e fatos polêmicos oriundos de nossa realidade social, afim de analisá-los sem preconceitos, proporcionando assim, não somente um julgamento procedente quanto uma possível reavaliação de nossas próprias concepções morais, afim de não torná-las anacrônicas ou inconsistentemente dogmáticas. A superação destes desafios se dará com maior facilidade quanto maior for nossa capacidade de olharmos através do olhar do outro, enriquecendo-nos mutuamente desta gama diversificada de perspectivas e experiências religioso-existenciais.
Não se pode esquecer que o diálogo ecumênico, inaugurado pelo Concílio Vaticano II, colaborou para que deixasse de existir em nós, católicos e protestantes, a falsa segurança de que detemos a verdade absoluta das coisas e a presunção de que existe uma única expressão religiosa correta, a de cada um, ao passo que todas as outras estão ou são intrinsecamente erradas. O desafio está em nos permitirmos enriquecer com a experiência do outro, evangelizando mais a partir dos pontos que nos une do que a partir daqueles que nos separam.
Podemos citar como exemplo a pastoral católica dos descasados, que poderia ser enriquecida pela exegese protestante luterana a respeito do matrimonio, que em sua prática pastoral e doutrinária admite o divórcio.[3]

2.3 Desafios externos.
Finalmente, passamos ao terceiro nível de desafios que consiste em encontrar respostas eficazes à desintegração sócio-política pela qual passa o mundo todo, arrefecida pelo neo-liberalismo, que nos últimos cinco anos alargou o fosso entre ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.
Esta desintegração, afetando particularmente a sociedade brasileira - cuja distribuição de rendas está entre as mais injustas do mundo - escandaliza a consciência inspirada no anúncio evangélico do Reinado de Deus, cujo conteúdo tem sido recuperado pela reflexão exegética, pela tradição neo-testamentária e pela experiência de fé das diferentes igrejas.
Sendo assim, urge responder aos efeitos nocivos da globalização e da corrupção generalizada a partir do modo de ser de Jesus, que tem uma relação intríseca com o anúncio e a efetivação da forma de Deus reinar, à imagem de como ele reina , a partir de sua vontade, no céu ( Mt 6, 10 ).
Paradoxalmente, quando falamos de Ética Cristã, vale a pena ressaltar que a nossa colaboração no apressar a vinda do Reino é de ordem prementemente política e não simplesmente religiosa ou "moral".[4]
Neste sentido, ainda que a Igreja Católica e as Igrejas Luteranas proclamem conjuntamente que se a salvação da humanidade ( equiparada à participação no seu Reino ) é uma iniciativa divina, não podemos negligenciar que ela se apóia na colaboração efetiva de cada ser-humano.
Como diz Juan Luis Segundo :

A essa óbvia colaboração com Deus para trazer o Reino à terra, que atravessa todos os três sinóticos, pertence também um dado fundamental: a necessidade de deixar tudo pelo Reino ( = por mim e pelo evangelho, pelo Filho do Homem ), o que não teria sentido se esse Reino fosse completamente indiferente ao que o homem faz por ele e por sua chegada.[5]

Concluindo :
Para aqueles que acreditam na validade, na seriedade e na eficácia de uma Ética baseada na espiritualidade cristã, como "fermento" uma sociedade pluralista e democrática, faz-se necessário estabelecer algumas diretrizes que torne capaz a humanização de toda e qualquer sociedade marcada por uma injusta desigualdade social, a exemplo da sociedade brasileira, cuja vida sócio-política é marcada por uma deficiência patológica de âmbito moral.

NOTAS

[1]Cf. MENDONçA, Antonio Gouvêa. Um panorama do Protestantismo Brasileiro atual. In Sinais dos tempos : tradições religiosas no Brasil. RJ, ISER, 1989. P. 43-44.
[2]MYRE, André et allii. Cri de Dieu. Espoir des pauvres. Montréal, 1977 APUD SEGUNDO, Juan Luis. O Profeta do Reino e sua Clave Política. In A História perdida e Reencontrada de Jesus de Nazaré : dos sinóticos a Paulo, São Paulo : Paulus, 1997, p. 151.
[3]ANTENORE, Armando. Católicos e Luteranos se reconciliam. Folha de São Paulo. São Paulo, 19 de setembro de 1999, Folha Mundo, 1° Caderno. P. 17.
[4]Cf. SEGUNDO, Juan Luis, op. cit., p. 142-179.
[5]Ibid, p. 160.

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