A chamada dos doze discípulos por Jesus para participarem de sua missão tem sido amplamente reconhecida
como um ato simbólico, no qual se demonstra a continuídade entre os
seus discípulos e Israel. Que os doze representam Israel, pode ser
demonstrado pela atuação escatológica que lhes é atribuida. Eles devem
sentar-se nos doze tronos, "a julgar as doze tribos de Israel" (Mt
19.28; Lc 22.30). O reconhecimento de que os doze foram escolhidos para
constituirem o núcleo do verdadeiro Israel não exclui a perspectiva de
que o número 12 também implica numa vindicação de todo o grupo dos
seguidores como o "qahal" (a congregação) de Jesus.
Os
doze estão destinados a exercerem a função de regentes do Israel
escatológico; mais já são recipientes das bençãos e poderes do Reino
escatológico. Consequentemente, eles representam não somente o povo
escatlógico de Deus, mas também aqueles que aceitam a presente oferta da
salvação messiânica. Através da parábola vivida da escolha dos doze,
Jesus ensinou que estava suscitando uma nova congregação para ocupar o
lugar da nação que estava rejeitando a sua mensagem.
A
expressão de Jesus em Mt 16.18,19, nos fala a respeito da criação de
uma determinada oraganização ou instituição, não deve ser interpretada
em termos da "ekklesia" característicamente cristã como
o corpo e noiva de Cristo, mas em termos do conceito
vétero-testamentário de Israel como povo de Deus. A idéia de "edificar"
um povo é uma idéia do V.T.. Acresce o fato de que ekklesia é um termo bíblico que designa Israel como congregação ou assembléia de Yahweh, constituindo-se uma tradução da palavra hebraica "qahal".
A pregação e ensino de Jesus permaneceu dentro do contexto total da fé e
prática de Israel. Israel como nação rejeitou a salvação messiânica
proclamada por Jesus, mas muitos a aceitaram. Dessa forma, Jesus
considera seus discípulos assumindo o lugar de Israel como o verdadeiro
povo de Deus.
A expressão a respeito da
fundação da igreja é adequada ao ensino de Jesus e significa que ele
considerou o círculo daqueles que receberam a sua mensagem como sendo os
filhos do Reino, o verdadeiro Israel, o povo peculiar de Deus. Não há
insinuação quanto a forma que este povo deve assumir. A declaração a
respeito da disciplina na "igreja" (Mt 18.17) categoriza os discípulos
como um grupo de comunhão distinto da sinagoga judaica, mas lança pouca
luz sobre a forma de organização que o novo grupo de companheirismo deve
assumir. A igreja como um corpo separado do judaismo, com a sua
organização própria e ritos peculiares, é um desenvolvimento histórico
posterior; mas é uma manifestação histórica de uma nova comunhão, que
veio à existência, devido à atuação de Jesus, como o verdadeiro povo de
Deus, o qual, tendo recebido a salvação messiânica, deveria assumir o
lugar da nação rebelde como o verdadeiro Israel de Deus.
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